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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Dois ou três.

Dez e meia, cotovelos na janela, no parapeito de cimento bruto: ela vem. Hoje de cabelos molhados encosta no muro da laje: fuma seu cigarro matinal com um café preto ao lado. Aproveita pra ver se a toalha, o vestido e o cadarço do tênis secou: desapontamento, o tempo não ajuda. Não sei dizer ao certo desde quando a observo, nem quanto tempo fico aqui, observador- silêncioso- secreto, olhando-a.
Ela olha pro chão, pro ceu, pro café, pras unhas da mão, que dessa distância não sei dizer se são grandes pequenas, pintadas, sem cor ou roídas. O tempo do cigarro, é o meu tempo com ela, as vezes ela, caridosamente, fuma dois, três... nunca mais que isso. Tudo bem, pode não ser caridade, deve ser um daqueles dias difíceis que só um cigarro ao acordar não bastam, ou um daqueles dias preguiçosos: nada pra fazer, vamos à mais um!
Queria desenhá-la, não consigo, queria, não sei, mandar um embrulho misterioso até a casa dela, mas veja só, nem sei o nome da rua, seu número, seu nome... Sim, eu poderia descobrir, mas prefiro não dar de cara com um marido, ou uma mulher. Ela é mistério e eu, aqui a observando, sou parte desse mistério de mulher. 
As vezes tenho a impressão de que, na verdade, ela é quem controla esse jogo. "Ás dez e meia ele está na janela, com que roupa subo hoje?" Fica ali posando, pra um completo desconhecido. "Hoje um cigarro, não vou dar muita bola. Será que hoje ele faz um sinal, um "olá" gritado, rasgando o vento, as ondas do ar, vou fumar mais um, quem sabe ele toma coragem!"
Ou talvez eu nem seja um desconhecido, talvez ela, com mais coragem que eu, tenha vindo até a rua de trás, ver o nome e tentar matemáticamente ou não, descobrir minha casa, meu número.

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