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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Trois

- Queria que você viesse mais tarde, lá pelas 22:00 quero ler um pouco da biografia do Leminski.
- Tudo bem. Também se não quiser que eu vá sem problemas.
- Não. Quero que venha.

O rosto dele brilhava efeito do calor danado que faz esses dias de começo de ano.
- Entra, entra, quer uma cerveja? Vamos fumar aqui na calçada mesmo. Dá tua bolsa - o braço se surpreende - Pô que você tá trazendo aqui dentro? - pergunta rindo e já entrando, sem se interessar pela resposta.
Duas cerveja nas duas mãos de dedos longos:
- Ah não acredito, você já tirou o sapato. Você tá na rua, vai sujar sua meia.
- Sem problemas. - sua resposta mais geral.

- Ontem foi legal. Havia três anos que não usava nada. Mas não sei, tive um momento pesado no começo. Por que você entra em contato com você né, você fica aberto; e, aberto, tudo te alcança. O Gabriel queria te pegar... Tenho certeza, você é uma menina perigosa.
- Que isso! Entendo seu momento de tristeza ontem, por que realmente tudo fica a flor-da-pele. Mas o Gabriel... Que isso, ele nem olhava pra mim quando eu falava algo, ficou olhando pra você: o tempo todo.

- O quê?! Você tá ficando ainda mais maluca. Ele tava me olhando pra ver a hora que eu ia apagar e ele te beijar. Vocês iam me deixar lá no sofá, te conheço, menina.

- Não acho, acho que ele quer transar com você. Acho não. Tenho certeza!
- Porra, certeza? - ele acendendo outro cigarro. - Acho que quero voltar na casa dele hoje, vamos lá?
- Você quer ele? Liga antes pra avisar.
- Lógico que não, quero pegar um livro lá... Não, vamos sem avisar mesmo.

No sofá do Gabriel, ela sem tênis, meia ou qualquer outra coisa, não consegue ouvir o que eles dizem. Põe- se a ler um livro, o livro que a marcou há uns 5 anos atrás. Que fez ela aprofundar ainda mais o vício na cocaína, "mas agora tô limpa" - dizia ela, sempre que indicava o livro à um novo amigo, flerte, inimigo."A inimiga número 1 dos homens" um filme anuncia. Hoje, ainda hoje, ela mostrará a contra-gosto algo em direção contrária à essa ideia.

Enquanto ele olhava o Gabriel, tentando entender com quem, afinal de contas, ele queria transar, ela mantinha os olhos no livro e Gabriel, por sua vez, tocava vários instrumentos de sopro (com olhos esbugalhados e rosto vermelho) com cara de naturais, nem João nem ela sabiam o nome de um que seja destes instrumentos.

- Ô, Gabriel, valeu pelo livro, pelo som etc, mas temos que ir. - ela já dormia. - Ei, vamos embora... Hoje ela dormiu muito pouco, creio que 1 hora só - explicava ele ao Gabriel, que balançava a cabeça calmamente.

Na rua, eles nada falam. Os corpos se encostam as vezes.
- Ei, escuta, veja se essa blusa é transparente, uso a anos e não sei se é.
- Muda alguma coisa se ela for?
- Não. Não muda nada, continuarei usando.
- Sabia - (os dois riem)

"Entra, entra." Ele faz um café, ela pede pra dormir. Ele abre a porta, ela de calcinha num quase sono, e insiste:
- O café tá pronto, vamos fumar um cigarro lá fora? Ei, ei... vem?
Ela levanta, coloca a calça, e um chinelo que estava por perto. Ele conta, na porta de casa, sobre a terapia, sobre sua ex e sobre seu trabalho. Ela conta dos homens que teve, e de como é bom transar ouvindo Janis Joplin:
- Ah, a bolsa tava pesada por isso, trouxe o computador pra ouvirmos...
- Pra transarmos? - ele pergunta rindo.
- Talvez. - ela responde sem rir.

Fim de cigarro, fim de noite, começo da manhã e indicação.
Eles transam:

- Agora eu entendo, você não nasceu mesmo pra ser de um. Seria egoísmo demais. Não, veja bem, não é machista o que tô dizendo.
Ela, agora rindo: "Sem problemas" - a velha resposta.

O gozo, o vazio, a resposta.
- Por que, você não admite que tá apaixonada por ele?
- Porquê não tô, oras. E além do mais, ele é super conservador, não me entenderia... Acho que no fundo ele nem quer nada comigo.
- Claro que quer. É que você assusta ele... Olha, tô pedindo minhas contas nessa relação a três que você me meteu com o Carlos e acho que você tem que dar um tempo com ele também... Deixar o caminho livre pra quem você tá apaixonada. E meu, pára de dizer que não está, ou que ele não quer nada, porque ele quer sim... Ele olha muito estranho pra mim quando estou ao seu lado.
- Nossa, verdade. Ele olha assim pra todos os caras que saio. Mas já tentei deixar claro que gosto dele. Ele sempre desvia, muda de assunto... Se chamo pra sair, ele chama logo outra pessoa pra ir junto.
- Olha, quem diria que depois de transar comigo, você admitiria que está, enfim, apaixonada. Quem diria, menina, você a Simone de Beauvoir dos trópicos num dilema adolescente.
Terminam a noite, o conto, o gozo: ele com boca trêmula de diversos problemas; ela com olhos que brilham de lágrimas e esperança e sonhará que é penetrada pelas flautas de Gabriel, que encontra-se deitado no chão pensando em como seria bom um Ménage à trois com esses dois. 

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