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terça-feira, 24 de abril de 2012

Um pouco de calor.

   Sento no banco contrário ao sentido do trem. Leio a mensagem que a mulher ao lado escreve ao marido: "Meu amor, estou chegando. To com saudade, 10 minutos to na estação." Um amor confortável ou o casamento dos pequenos burgueses: "Ele é o funcionário completo e ela aprende a fazer suspiros, vão viver sob o mesmo teto até trocarem tiros."? Não sei. Confiro no espelho do pó compacto se ficaram marcas dos seus dentes nas bochechas, pescoço e ombros. Ainda sinto seus dedos me apertando, querendo entrar na minha pele, fundir. Sinto também sua pele no meu dedo, meu cabelo enroscado na tua barba e tento, de olhos fechados afastar um fio de cabelo inexistente da minha boca. Sinto cheiro da tua saliva, posso até sentir o calor. 
  Seria muito mais fácil te deixar agora, encerrar tudo isso. Mas essa sensação de inacabado e tudo que te cerca e me cerca me tragam, me puxam e logo: tô no teu pescoço, no teu peito, no teu colo. E logo: sua barba toca na minha bochecha, minha mão pesa no teu ombro, teus braços envolvem minha cintura. A respiração fica rápida, os lábios secos um tanto rachados pedem por calor, por molhado. Então meus lábios pousam nos seus, sinto meu corpo mole, eu perco o equilíbrio e você me segura. Segura cabelos, coxas, braços, peitos. Rimos. 
 - Isso é maluco. 
 - Infinitamente maluco. Mas não consigo. Me dá uma coisa.
 - Que coisa! 
   Caimos no sofá, teu braço envolve toda minha cintura. Eu suspiro e você para. E eis que nos separaremos: pra depois voltar, pra depois pedir por liberdade. Pra depois sentir seus lábios secos pedindo, sem escrúpulos, um pouco de calor.

domingo, 22 de abril de 2012

Meteoros nessa madrugada.

Abro o navegador e leio que hoje, nessa madrugada de sabado pra domingo será visível a olho nú, no ceu, uma chuva de meteoro. Engraçado, nunca imaginei que essas coisas fossem possíveis de ver, e muito menos que eu poderia ver. Mas entre todos os pensamentos que a chuva de meteoro trouxe veio você: numa recordação recente, mas com gosto de velha. Em frente a tv, embaixo do cobertor, aproveitando o feriado fora de casa dos meus pais estavamos nós dois, juntos num corpo só. Quando anunciam: "O eclipse será visível a olho nú, nesta madrugada de sabado pra domingo". Câncer, o signo da Lua dizem. - Quero muito ver com você. - Não vai dar, vou viajar lembra? - Bom podemos ainda assim assisti-lo juntos. Você sorri e eu me sinto com uma prova com nota A na hora do almoço com a família. No outro dia os dois, nós dois programamos o despertador. E então posso imaginar: Acordo ao som de Bob Dylan, Just like a woman. Descabelada, pé no chão, 3 espirros seguidos pego um copo d'agua. Abro a janela: um puta vento e mais 2 espirros. Acorda ao som de Let it be, bochachas marcadas pelo travesseiro, põe o chinelo, limpa o canto dos olhos com os dedos. Se arrepende de ter marcado de ver o eclipse, precisava acordar ás 5h da manhã etc etc. Pega o celular, disca meu número. E agora a chuva de meteoro nessa madrugada vem. E desconfio: é só para que você não saia tão facilmente dos meus pensamentos. Chamam também de "estrelas cadentes" chuva de estrelas cadentes: fico a repetir deitada na cama.

domingo, 15 de abril de 2012

Sou, somos e é.

- Você é a pessoa que mais tenho vontade de desvendar, de conhecer.

"Você precisa saber de mim", "Me ver de perto" Pra mim isso não é em vão. Vejo uma conotação sexual. "Ouvir aquela canção do Roberto", Roberto Carlos tem as músicas mais safadas que já ouvi. Ri, riu, rimos.

Acendo o cigarro: Não estou aqui pra relacionamentos, não sei lidar com isso, com o fato de prender alguém, seja lá porque ele me ama, ou porque é convencional. Quero viver sabe, "correr o mundo, correr perigo".

- Esse seu jeito de levar a vida como quem desvia de buracos cheios de lama me excita.
Você diz isso agora, no fundo todos querem segurança. Inclusive eu. Mas cansa esperar segurança, quando ela nunca chega. Chegará um dia? Não sei. Sei que amor é "bicho instruído"

- Que bate na porta. Mas agora "fui abrir e me constipei".
Eu avisei, avisei. E agora? Você vai conhecer outras mulheres, meninas... Sabe, eu sei disso, e nao vou, não quero esperar segurança de você. Conheço a história. Mas não vou e nem quero tomar cuidado. Enquanto estivermos aqui, sob esse ceu, nessa varanda secreta com vista pra floresta, somos eu e você (seja lá o que isso signifique), e, enquanto esse encanto nos prender: sou, somos e é.

Alguém parecido, era o que sempre procurou. Deu pra sonhar, desliza pelos dedos, pelos unhas, aperta seu cabelo, sente o pescoço, sente, prova.

domingo, 1 de abril de 2012

Monte.

O dedo não parava de apertar o interruptor: e nada.
- Puta merda! É a terceira vez, em uma semana, que a lâmpada queima.
Deixou os planos de ler no quarto e foi pra sala. Sentiu vontade de ligar a televisão.
Sentiu o cheiro dele. Tanto procurou aquele perfume pelas ruas e agora, como que zombando, ele estava na sala. Mas como? se perguntava. Faz uns três meses que ele não passa por aqui. E o cheiro, de onde ele vem? Tinha procurado tanto. Tanto! Buscava ele em algum cliente pobretão e até em alguma mulher. Aquele cheiro que estava enterrado na distancia de muitos quilômetros, bento pelas aguas que rolaram.
Ela precisa de um motivo: pra sonhar, pra chorar.